O texto a seguir é um fragmento da obra “Olhai os lírios do campo”, de Érico Veríssimo. Ela narra a história de Eugênio, um jovem e ambicioso médico que, ao se casar por interesse com Eunice, mulher rica, fútil e vazia,
abandona Olívia, sua realmente amada, dedicada e desprendida colega da faculdade. Ao longo do romance, dáse as transformações das emoções e experiências sentidas e vividas por Eugênio, enquanto a figura de Olívia se
destaca em virtudes humanas. O fragmento é uma das muitas reflexões que Olívia, em sua grande sabedoria, tece
na obra em questão.
“Estive pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa
principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano
e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir
arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles?
Quero que abra os olhos, Eugênio, que acorde enquanto é tempo. Peço-te que pegues a minha Bíblia que
está na estante de livros, perto do rádio, leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a
página está marcada com uma tira de papel. Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente no ponto
em que Jesus nos fala dos lírios do campo que não trabalham nem fiam, e no entanto, nem Salomão em toda sua
glória jamais se vestiu como um deles. Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e
ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas
seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E,
quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do
campo e as aves do céu.
Não penses que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou que ache que o
povo devia viver narcotizado pela esperança da felicidade na “outra vida”. Há na terra um grande trabalho a
realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os
aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de
fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim
com as do amor e da persuasão. Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um
puro contemplativo.
Quando falo em conquista, quero dizer a conquista duma situação decente para todas as criaturas humanas,
a conquista da paz digna, através do espírito de cooperação.
E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades,
malvadezas, absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária, do sofrimento que
essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar. Precisamos, portanto, de criaturas
de boa vontade.”
(Érico Veríssimo, Olhai os Lírios do Campo)
13) De acordo com o texto, qual é a ideia principal apresentada?
abandona Olívia, sua realmente amada, dedicada e desprendida colega da faculdade. Ao longo do romance, dáse as transformações das emoções e experiências sentidas e vividas por Eugênio, enquanto a figura de Olívia se
destaca em virtudes humanas. O fragmento é uma das muitas reflexões que Olívia, em sua grande sabedoria, tece
na obra em questão.
“Estive pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa
principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano
e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir
arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles?
Quero que abra os olhos, Eugênio, que acorde enquanto é tempo. Peço-te que pegues a minha Bíblia que
está na estante de livros, perto do rádio, leias apenas o Sermão da Montanha. Não te será difícil achar, pois a
página está marcada com uma tira de papel. Os homens deviam ler e meditar esse trecho, principalmente no ponto
em que Jesus nos fala dos lírios do campo que não trabalham nem fiam, e no entanto, nem Salomão em toda sua
glória jamais se vestiu como um deles. Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e
ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas
seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E,
quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do
campo e as aves do céu.
Não penses que estou fazendo o elogio do puro espírito contemplativo e da renúncia, ou que ache que o
povo devia viver narcotizado pela esperança da felicidade na “outra vida”. Há na terra um grande trabalho a
realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços enquanto os
aproveitadores sem escrúpulos engendram os monopólios ambiciosos, as guerras e as intrigas cruéis. Temos de
fazer-lhes frente. É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência e sim
com as do amor e da persuasão. Considera a vida de Jesus. Ele foi antes de tudo um homem de ação e não um
puro contemplativo.
Quando falo em conquista, quero dizer a conquista duma situação decente para todas as criaturas humanas,
a conquista da paz digna, através do espírito de cooperação.
E quando falo em aceitar a vida não me refiro à aceitação resignada e passiva de todas as desigualdades,
malvadezas, absurdos e misérias do mundo. Refiro-me, sim, à aceitação da luta necessária, do sofrimento que
essa luta nos trará, das horas amargas a que ela forçosamente nos há de levar. Precisamos, portanto, de criaturas
de boa vontade.”
(Érico Veríssimo, Olhai os Lírios do Campo)
13) De acordo com o texto, qual é a ideia principal apresentada?
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