que não entendi. Fui logo dizendo que não tinha, certa de que ele estava pedindo dinheiro.
Não estava. Queria saber a hora.
Talvez não fosse um Menino De Família, mas também não era um Menino De Rua.
É assim que a gente divide. Menino De Família é aquele bem-vestido com tênis da moda
e camiseta de marca, que usa relógio e a mãe dá outro se o dele for roubado por um
Menino De Rua. Menino De Rua é aquele que quando a gente passa perto segura a bolsa
com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão.
Ouvindo essas expressões tem-se a impressão de que as coisas se passam muito
naturalmente, uns nascendo De Família, outros nascendo De Rua. Como se a rua, e não
uma família, não um pai e uma mãe, ou mesmo apenas uma mãe os tivesse gerado, sendo
eles filhos diretos dos paralelepípedos e das calçadas, diferentes, portanto, das outras
crianças, e excluídos das preocupações que temos com elas. É por isso, talvez, que, se
vemos uma criança bem-vestida chorando sozinha num shopping center ou num
supermercado, logo nos acercamos protetores, perguntando se está perdida, ou precisando
de alguma coisa. Mas se vemos uma criança maltrapilha chorando num sinal com uma
caixa de chicletes na mão, engrenamos a primeira no carro e nos afastamos pensando
vagamente no seu abandono.
Na verdade, não existem meninos De Rua. Existem meninos NA rua. E toda vez
que um menino está NA rua é porque alguém o botou lá. Os meninos não vão sozinhos
aos lugares. Assim como são postos no mundo, durante muitos anos também são postos
onde quer que estejam. Resta ver quem os põe na rua. E por quê.
[...]
Quando eu era criança, ouvi contar muitas vezes a história de João e Maria, dois
irmãos filhos de pobres lenhadores, em cuja casa a fome chegou a um ponto em que, não
havendo mais comida nenhuma, foram levados pelo pai ao bosque, e ali abandonados.
Não creio que os 7 milhões de crianças brasileiras abandonadas conheçam a história de
João e Maria. Se conhecessem talvez nem vissem a semelhança. Pois João e Maria tinham
uma casa de verdade, um casal de pais, roupas e sapatos. João e Maria tinham começado
a vida como Meninos De Família, e pelas mãos do pai foram levados ao abandono.
Quem leva nossas crianças ao abandono? Quando dizemos "crianças
abandonadas" subentendemos que foram abandonadas pela família, pelos pais. E, embora
penalizados, circunscrevemos o problema ao âmbito familiar, de uma família gigantesca
e generalizada, à qual não pertencemos e com a qual não queremos nos meter.
Apaziguamos assim nossa consciência, enquanto tratamos, isso sim, de cuidar
amorosamente de nossos próprios filhos, aqueles que "nos pertencem".
Mas, embora uma criança possa ser abandonada pelos pais, ou duas ou dez
crianças possam ser abandonadas pela família, 7 milhões de crianças só podem ser
abandonadas pela coletividade. Até recentemente, tínhamos o direito de atribuir esse
abandono ao governo, e responsabilizá-lo. Mas já não podemos apenas passar adiante a
responsabilidade. A hora chegou, portanto, de irmos ao bosque, buscar as crianças
brasileiras que ali foram deixadas.
01. Que fato narrado no primeiro parágrafo deu origem a reflexão desenvolvida ao
longo do texto? Escreva.
02. O texto descreve a diferença no comportamento das pessoas diante de uma criança
bem-vestida chorando e de uma criança maltrapilha fazendo o mesmo. Qual é essa
diferença?
03. “Na verdade, não existem Meninos de Rua. Existem meninos Na rua. E toda
vez que um menino está Na rua é porque alguém o botou lá. [...]”. Qual é a
diferença de sentido entre os termos destacados?
04. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) apresenta como garantia básica
de todas as crianças e dos adolescentes a prioridade nas políticas de saúde,
educação e assistência social. Diante disso, qual é a crítica social apresentada?
Explique.
1 Resposta
Oiee Mateus
Toda palavra que funciona para ligar essencialmente para ligar orações ou termos da mesma função sintática é uma conjunção. As conjunções se classificam em dois grupos: Coordenativas e Subordinativas.
⇒ Por isso, estimar-se é uma necessidade vital, que não tem nada a ver com arrogância.
a ) conclusão : Conjunção Coordenativa
→ Exprimem conclusão de pensamento, raciocínio. Algumas delas:
portanto, logo, por isso, assim.
⇒ Vamos trocar as conjunções, para sabermos se caracterizam o mesmo efeito, o mesmo sentido.
→ Portanto, estimar-se é uma necessidade vital ...
→ Logo, estimar-se é uma necessidade vital ..
→ Assim, estimar -se é uma necessidade vital ..
⇒ Por isso, estimar-se é uma necessidade vital, que não tem nada a ver com arrogância.
⇒ CORRETA
b ) causa : Conjunção Subordinativa
→ Exprimem ideia de causa. Algumas delas :
porque, que, visto que, já que, uma vez que, como ( no início da oração ).
⇒ A frase não diz a causa da auto estima. Ela constata a necessidade dela.
⇒ INCORRETA
c ) explicação : Conjunção Coordenativa
→ Exprimem razão, motivo na segunda oração. Algumas delas:
porque, que, pois ( antes do verbo ).
Ex : Fique quieto, porque quero ler.
Fique quieto, pois, quero ler.
⇒ A frase não explica, a razão ou motivo, ela conclui o motivo.
⇒ INCORRETA
d) condição : indicam , a ideia, condição, hipótese, para que o fato relatado na oração principal aconteça ou não. Algumas delas:
se, caso, contanto que, a menos que, a não ser que.
Ex: Se você não for, eu não vou.
Eu irei, desde que, você esteja lá.
⇒ A frase não impõe nenhuma condição
⇒ INCORRETA
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